O Tempo (não no sentido de Proust mas no de Anthímio)


Não sei se será apenas um fenómeno português ou será uma prática comum noutros países, mas a questão de estarmos sempre a falar do tempo (vulgo meteorologia ou clima) deveria ser objecto de um estudo aprofundado ao nível de tese de doutoramento.

Existem tipicamente duas formas de abordar o tempo:

1) como uma espécie de desbloqueador de conversa, com o exemplo mais típico o tempo passado nos elevadores ou nas paragens de autocarro ("está fresquinho, não é?"... "pois é"), embora eu não considere tanto um desbloqueador na medida em que as pessoas efectivamente não querem meter conversa porque nesse caso haveria uma miríade de assuntos para se falar bem mais interessantes. Funciona mais como um encher chouriços ou, sobretudo, um preenchimento de silêncios (existe, hoje em dia, uma necessidade premente de evitar silêncios como se estes fossem a praga do século XXI - então vão-se preenchendo silêncios com nadas, o que acaba por ser quase a mesma coisa mas em mau);

2) como queixa, e aqui os portugueses são mestres, já que nunca parece estar o tempo ideal. Se está calor logo as pessoas vêm com "este calor também é demais", se está frio é porque "nunca mais vem o Verão!", se chove "lá se vai a agricultura", se não chove "lá se vai a agricultura". Nós nunca estamos contentes com o tempo, o qual também nos garante uma espécie de falta de memória ou pré-Alzheimer quando dizemos "não me lembro de um Inverno/Verão assim", frase que só por si denota logo a tal falta de memória porque normalmente não dizemos "nunca esteve um Inverno/Verão assim".
Fica o poema sobre o tempo declamado por um génio:

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