Inspeção Periódica Automóvel

 
As inspeções periódicas do automóvel têm logo uma componente selectiva na medida em que se aplicam apenas a viaturas com pelo menos 4 anos de vida, o que exclui normalmente quem tem realmente boas vidas porque conseguem trocar a viatura dentro desse período ou mandam as mesmas à inspeção através da locatária.

Por isso o ambiente nas inspeções acaba por ser sempre estranho já que temos praticamente apenas o povo, a classe trabalhadora pura que tem de manter o seu chaço até ele (literalmente) se começar a desfazer. Temos assim uma 'plêiade' de ilustres portugueses em calção de banho e camisa ou de calças e chinelos flip-flops.
 
A primeira reacção que temos é que vamos ser assaltados naquele espaço, agravada pelo estado de espírito dos 'inspectores', os quais apresentam quase sempre um semblante carregado e mal encarado (ou então sou eu que tenho muito azar!).

E depois, quando se inicia a inspeção propriamente dita, sentimos que acabámos de entrar numa ditadura militar sul-americana. As indicações que nos são dadas são quase sempre aos gritos. "Pisca esquerda!! Pisca Direita!! Nevoeiro atrás!! NEVOEIRO ATRÀS!! NEVOEIRO ATRÀS!! Quatro piscas!!!". A sensação que temos é que chegámos à recruta militar (agravado pelo barulho em redor, não só das outras viaturas como dos gritos dos outros inspectores). É quase humanamente impossível conseguirmos responder em tempo real a todas aquelas solicitações que nos são pedidas, não só porque nunca usamos aquela parafernália de comandos do carro naquela sequência diabólica mas também porque o medo nos faz parar o cérebro.

Abrir o capot obriga-me sempre a um exercício prático de memorização antes de entrar no centro de inspeção uma vez que é muito fácil não nos lembrarmos sequer onde está o 'coisinho' (é este o termo técnico) para abrir, tal o uso que lhe damos (a "Operação Capot" pode ser o nosso Vietname).

Depois há uma altura em que o inspector vai para debaixo do carro, entrando numa espécie de trincheira feita de betão armado. Antes diz-nos "Quando eu disser, trave e rode o volante de um lado para o outro". É impossível ouvi-lo lá do buraco, eu conto 10 segundos e começo a rodar e a travar como se o mundo dependesse disso para continuar. Ele podia dizer que estava a ter um enfarte que eu limitar-me-ia a rodar, rodar, rodar...


E tudo isto para colar um selo no vidro!

 

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